domingo, 18 de novembro de 2012

Ciúme Patológico

Ciúme Patológico


A literatura científica sobre o assunto permite inferir que
existem dois tipos de ciúme: o normal e o patológico. Para
Cavalcante, ciúme patológico consiste em:
“...uma perturbação total, um transtorno afetivo grave. O
ciumento sofre em seu amor:  em sua confiança, em sua
tranqüilidade, em seu amor próprio, em seu espírito de
dominação e em seu espírito de posse. O ciúme corrói-lhe o
sentimento em sua base e destrói, com uma raiva furiosa,
suas próprias raízes. Propicia a invasão da dúvida que
perturba a alma, fazendo com que ame e odeie ao mesmo
tempo, a pessoa objeto de sua afeição. O maior sofrimento
do ciumento é a incerteza em que vive, pela impossibilidade de saber,
com segurança, se o(a) parceiro(a) o engana ou
não” (CAVALCANTE, 1997, p. 24).
Ainda, segundo o mesmo autor, o ciúme patológico é um
transtorno afetivo grave, que corrói e destrói o relacionamento e os
sentimentos; é uma perturbação em que o indivíduo se sente
constantemente ameaçado. Nesses casos, muitas vezes, a relação é
baseada na posse; conseqüentemente, isso bloqueia, não faz crescer
o amor. O relacionamento torna-se muito angustiante, tenso,
carregado de uma intensa carga  emocional negativa (CAVALCANTE,
1997). No processo de ciúme patológico, várias emoções,
pensamentos irracionais e perturbadores, dúvidas e ruminações sobre
provas inconclusivas, idéias obsessivas, prevalentes ou delirantes
sobre infidelidade, busca incessante de evidências que confirmem ou
afastem a suspeita, além de comportamentos inaceitáveis ou
bizarros, são experimentados pelo indivíduo que sofre do problema. A
perturbação se manifesta através de sentimentos como ansiedade,
culpa, raiva, sentimento de inferioridade, depressão, imagens
intrusivas, remorso, humilhação, insegurança, vergonha, rejeição,
rituais de verificação, desejo de vingança, angústia, possessividade,
baixa auto-estima, muito medo de perder o parceiro para um rival,
desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no
funcionamento pessoal e interpessoal de quem sofre desse mal
(BOTTURA JUNIOR, 2003; CAVALCANTE, 1997; TORRES et al.,1999).
Alguns autores sugerem, por exemplo, que o ciúme patológico
possa ser sintoma de um quadro obsessivo-compulsivo, no qual
pensamentos de ciúme podem ser vivenciados como excessivos,
irracionais ou intrusivos, e podem levar a comportamentos
compulsivos, como os de verificação (por exemplo, questionamentos,
telefonemas, visitas-surpresa, vasculhar bolsos, bolsas, celulares,
agendas, ouvir telefonemas, seguir o cônjuge, abrir correspondências, entre outros), caracterizados por dúvidas e
ruminações sobre provas inconclusivas, na busca incessante de
evidências que confirmem ou afastem a suspeita (TORRES et al.,
1999).
É interessante notar, ainda, que as manifestações do ciúme
normal e patológico diferem entre os sexos. Segundo Buss (2000),
estudos mostram que homens e mulheres são igualmente ciumentos;
ou seja, ambos podem ser atormentados pelo ciúme, tanto em suas
manifestações cotidianas, quanto em suas expressões clínicas mais
ostensivas, mas os eventos que disparam o ciúme são diferentes em
cada caso. Há diferenças entre homens e mulheres nas suas atitudes
quanto ao envolvimento emocional no sexo. A maioria das mulheres
deseja algum tipo de envolvimento emocional, compromisso, amor,
homens maduros, com status financeiro. Os homens têm desejos de
variedade sexual, priorizando beleza física (corpo atraente) e
juventude. Então, para as mulheres, seria mais perturbadora a
infidelidade emocional, enquanto os homens ficam mais aflitos pela
infidelidade sexual de suas parceiras.
No sexo feminino, é importante atentar para os principais
fatores que podem precipitar as manifestações de ciúme, levando a
sentimentos de inferioridade, menor desejo sexual e,
conseqüentemente, medo da infidelidade (traição) do parceiro. Por
outro lado, para os homens, os temores de abandono e os delírios de
infidelidade, por parte da parceira, podem surgir em situações
específicas, como, por exemplo, a saúde em declínio. Nesse caso, a
doença faz com que o homem fique preso à casa e, assim, a parceira
fica livre para sair; por isso,  atormenta-a com questionamentos e
acusações (BUSS, 2000).
A insatisfação sexual, também, pode ser detonadora de ciúme,
causando infelicidade conjugal, aumentando a probabilidade de
rompimento e de ameaça de infidelidade sexual. Uma das principais razões de agressões físicas, dos maridos contra suas mulheres, reside
no ciúme sexual. Além disso, a violência como medida mais severa
para coibir a infidelidade não é limitada às parceiras conjugais;
também prevalece durante o namoro. As manifestações de ciúme
podem variar desde ameaças de violência, ocorrências de
espancamentos até assassinatos. Muitas vezes, o parceiro ataca a
mulher com uma raiva intensa, com a intenção de causar dano
corporal ou, até mesmo, a morte (BUSS, 2000).
Estudos revelam o papel do álcool como desencadeador do ciúme,
levando o ciumento a suspeitas de infidelidade, considerada delirante,
ou manifestação do ciúme patológico, que leva à distorção da
percepção e podem, também, deturpar a interpretação dos fatos. Em
alguns casos, pode ocorrer associação entre consumo de álcool e a
impotência sexual, e o conseqüente aparecimento do ciúme; isto
pode levar o indivíduo a ter medo de ser abandonado pela parceira,
pois a mulher acaba desenvolvendo uma aversão ao marido áspero e
brutal, por ele estar bêbado (BUSS, 2000). Forma-se então, um
círculo vicioso e pernicioso:
“O ciumento não perdoa e não confia. Se lhe faltam motivos
no presente, busca-os no passado e até no imprevisível
futuro, ainda que ilusórios,  frutos de sua imaginação
atormentada” (ROSA, 2005, p. 19).
Diante da gravidade das conseqüências desse problema, é
fundamental atentar para a importância do tratamento psicológico
e/ou psiquiátrico, em casos de ciúme patológico. Admitir o problema,
não negligenciando, nem negando a situação, e procurar ajuda são
gestos de sabedoria; discutindo a relação abertamente com o
parceiro, dividindo angústias e temores, procurando questionar os
fatos, rever as atitudes tomadas, auto-avaliar-se, entre outras
atitudes benéficas, promove uma autocompreensão e autoconhecimento, necessários para uma relação amorosa saudável;
caso contrário, esse problema pode levar a uma série de
conseqüências, muitas vezes irreversíveis. É importante que
profissionais diversos, como psicólogos e psiquiatras, tenham
conhecimento acerca do assunto e dos principais aspectos envolvidos
na dinâmica de ajustamento conjugal.


Adrienne Lucas
Psicoterapeuta cognitiva comportamental
Clínica Innover- Belo horizonte
Tel:(31)25113013/drikkapsico@gmail.com

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