sábado, 2 de março de 2013

Laços fragilizados



Laços fragilizados
Fábio Fischer de Andrade


No campo afetivo, é de conhecimento público o fato de a internet ter servido de catalizadora para vários relacionamentos amorosos, affairs, "casinhos” e por aí vai. A garantia do anonimato facultativo é tentadora. Muitas vezes revelamos a um “amigo virtual” o que nossos pais, esposas, maridos e terapêutas nem sonham em saber. Através de fantasias e projeções, uma idéia de pessoa é construída, reforçada pelas conversas diárias e a troca de mensagens instantâneas, o que só faz fortalecer o vínculo (ao menos em uma das partes envolvidas). Há quem desenvolva relações anaclíticas via web, mas isso é terreno pantanoso no qual não desejo me aventurar neste texto.
Certas relações tornam-se convenientes, por vezes confortáveis, já que se pode dividir a vida entre o que se faz offline online. Até quando o virtual pode adentrar o real ? Uma relação baseada em projeções e fantasias pode ruir ao ser trazida para o mundo  offline. O príncipe vira um sapo cheio de verrugas e a princesa uma bruxa horrenda. 
Ao usarmos as ferramentas de comunicação mediadas por computador, fazemos com o intuito de interagir com outras pessoas. É natural que vínculos se criem, desejos se manifestem e a vontade de ver quem está por trás do nickname se intensifique. No entanto, é importante ressaltar que no ambiente virtual pode-se a todo instante (ao menos se tem esta ilusão) abortar a comunicação sem que o outro precise saber o que aconteceu e assim não sofra, já que nunca existiu algo “real”. As interações são em rede e por isso exigem constantes modificações, como aponta Bauman:
Uma rede serve de matriz tanto para conectar quanto para desconectar; não é possível imaginá-la sem as duas possibilidades […] A palavra 'rede' sugere momentos nos quais 'se está em contato' intercalados por períodos de movimentação a esmo. Nela as conexões são estabelecidas e cortadas por escolha […] Na rede, as conexões podem ser rompidas, e o são, muito antes
que se comece a detestá-las
 (BAUMAN, 2004, p.12).

Até que ponto isso funciona na prática ? Podemos questionar, por exemplo, como ficam os sentimentos de quem está do outro lado da tela. Merecem ser considerados ? Afinal, o vínculo existiu durante meses ou até anos, sem ao menos terem se encontrado uma única vez. A relação é desterritorializada, desconectada de espaço e tempo, mas nem por isso falsa. O meio como a mensagem foi trasmitida é virtual, mas a relação que se estabelece é real.

A fragiliadade dos laços humanos, que sempre existiu, torna-se explícita quando vista pelas lentes das novas tecnologias. Somos seres sociais, gregários; precisamos do contato com o outro. Mesmo virtual, “de mentirinha” como muitos gostam pejorativamente de dizer, precisamos nos sentir importantes, sendo parte de um todo maior que tenha algum significado.

Virtuais ou reais, como andam os seus laços  ?

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