Vivemos um momento de transição histórica, na qual as mudanças tecnológicas são tão ágeis que dificultam uma projeção do futuro e pouco podemos prever sobre suas consequências em nível cultural.
Não é possível, ainda, detectar quão proveitosas serão as novas habilidades selecionadas neste processo evolutivo para a vida em sociedade. Crianças e jovens cada vez mais encontram refúgio em aparatos tecnológicos de uso individual, tais como o videogame e as redes sociais, desenvolvendo um repertório comportamental limitado em comparação ao que as relações interpessoais presenciais oferecem.

Ora, qual é a razão para eleger a vida real quando na virtualpodemos exercer tamanhocontrole?
Podemos controlar o tempo de convivência; os momentos adequados em que nos dispomos a dialogar; as informações sobre nós mesmos às quais daremos acesso; as fotos que concedem somente nossos melhores ângulos; e – principalmente – a edição do que expressamos. Na interação virtual é possível editar nossas próprias palavras de modo a controlar da melhor maneira possível ainterpretação do outro e, assim, ampliar o estabelecimento de uma contingência reforçadora.
Podemos controlar o tempo de convivência; os momentos adequados em que nos dispomos a dialogar; as informações sobre nós mesmos às quais daremos acesso; as fotos que concedem somente nossos melhores ângulos; e – principalmente – a edição do que expressamos. Na interação virtual é possível editar nossas próprias palavras de modo a controlar da melhor maneira possível ainterpretação do outro e, assim, ampliar o estabelecimento de uma contingência reforçadora.
É essa controlabilidade das relações que me assusta na nova geração, que provém de uma natividade internauta e se isola cada vez mais nesse modelo de interação socialdiferente do real. É essa controlabilidade que me faz hesitar sobre quão positivo pode ser o avanço tecnológico na socialização do ser humano, porque o relacionamento interpessoal presencial envolve a constante experiência da ausência de controle sobre as variáveis; envolve a aversividade do confronto de opiniões, o exercício da argumentação, a possibilidade de rejeição social.
Relacionar-se com alguém pode ser doloroso. Pode incluir difíceis momentos de autocrítica, culpa e raiva. Pode evocar sentimentos perturbadores, como o arrependimento e a saudade, ou melancólicos, como a indiferença e o desprezo. Pode levar ao ceticismo sobre a existência da bondade e, especialmente, à triste decisão de que não se deve confiar em ninguém.
No entanto, relacionar-se com alguém também pode ser aprazível, de tal forma que nada se compare. Pode proporcionar a agradável convicção pessoal sobre si mesmo, com momentos de apoio e aceitação recíprocos. Pode evocar sentimentos calorosos, como o amor e a proteção, ou intensos, como a paixão e fidelidade. Pode levar a uma credulidade esperançosa sobre a existência de alguém que mereça sua confiança e, especialmente, à indescritível sensação de que não se está só.
O relacionamento virtual, tão repleto de controle, dificilmente permite o desenvolvimento de um fator determinante para o vínculo duradouro: aintimidade. Não quero com isso desmerecer a qualidade dos relacionamentos que já se iniciam à distância, pois compreendo que muitas vezes as pessoas estão dispostas a oferecer o melhor de si nestas circunstâncias, mas sinalizo a importância da convivência para que a intimidade necessária à estabilidade da relação seja possível.
A intimidade é a grande aliada e rival de qualquer relacionamento.
Quando podemos nos expor sem receios a alguém e, ainda assim, encontrando a correspondência natural dos nossos comportamentos, tornamo-nos íntimos de uma forma saudável e geralmente reforçadora. É no momento em que a própria intimidade passa a ser usada para o controle coercitivo nas relações que noto-a uma grande rival da felicidade individual e do casal ou pessoas envolvidas.
Porfrancine Porfilio
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