sábado, 30 de março de 2013

Relacionamento: ENTRE O VIRTUAL OU REAL.

Relacionamento: ENTRE O VIRTUAL OU REAL.


Vivemos um momento de transição histórica, na qual as mudanças tecnológicas são tão ágeis que dificultam uma projeção do futuro e pouco podemos prever sobre suas consequências em nível cultural.

Não é possível, ainda, detectar quão proveitosas serão as novas habilidades selecionadas neste processo evolutivo para a vida em sociedade. Crianças e jovens cada vez mais encontram refúgio em aparatos tecnológicos de uso individual, tais como o videogame e as redes sociais, desenvolvendo um repertório comportamental limitado em comparação ao que as relações interpessoais presenciais oferecem.

Relacionam-se com centenas de pessoas virtualmente em uma constante auto-expressão, mas quando precisam fazê-lo em uma real experiência que envolve a natural ansiedade que o relacionamento interpessoal evoca demonstram-se inábeis ou esquivadoras. A que podemos atribuir tal incoerência? Provavelmente ao fato de que as contingências promovidas pelo contato virtual são obviamente distintas daquelas promovidas pelo contato presencial, no qual não podemos exercer igual controle como usuários da tecnologia. Se diante do computador podemos bloquear pessoas que evocam sentimentos e pensamentos aversivos, no relacionamento interpessoal presencial é preciso enfrentá-los e nos submeter ao incômodo devido à impossibilidade de esquiva.

Ora, qual é a razão para eleger a vida real quando na virtualpodemos exercer tamanhocontrole
Podemos controlar o tempo de convivência; os momentos adequados em que nos dispomos a dialogar; as informações sobre nós mesmos às quais daremos acesso; as fotos que concedem somente nossos melhores ângulos; e – principalmente – a edição do que expressamos. Na interação virtual é possível editar nossas próprias palavras de modo a controlar da melhor maneira possível ainterpretação do outro e, assim, ampliar o estabelecimento de uma contingência reforçadora.

É essa controlabilidade das relações que me assusta na nova geração, que provém de uma natividade internauta e se isola cada vez mais nesse modelo de interação socialdiferente do real. É essa controlabilidade que me faz hesitar sobre quão positivo pode ser o avanço tecnológico na socialização do ser humano, porque o relacionamento interpessoal presencial envolve a constante experiência da ausência de controle sobre as variáveis; envolve a aversividade do confronto de opiniões, o exercício da argumentação, a possibilidade de rejeição social.

Relacionar-se com alguém pode ser doloroso. Pode incluir difíceis momentos de autocrítica, culpa e raiva. Pode evocar sentimentos perturbadores, como o arrependimento e a saudade, ou melancólicos, como a indiferença e o desprezo. Pode levar ao ceticismo sobre a existência da bondade e, especialmente, à triste decisão de que não se deve confiar em ninguém.

No entanto, relacionar-se com alguém também pode ser aprazível, de tal forma que nada se compare. Pode proporcionar a agradável convicção pessoal sobre si mesmo, com momentos de apoio e aceitação recíprocos. Pode evocar sentimentos calorosos, como o amor e a proteção, ou intensos, como a paixão e fidelidade. Pode levar a uma credulidade esperançosa sobre a existência de alguém que mereça sua confiança e, especialmente, à indescritível sensação de que não se está só.
O relacionamento virtual, tão repleto de controle, dificilmente permite o desenvolvimento de um fator determinante para o vínculo duradouro: aintimidade. Não quero com isso desmerecer a qualidade dos relacionamentos que já se iniciam à distância, pois compreendo que muitas vezes as pessoas estão dispostas a oferecer o melhor de si nestas circunstâncias, mas sinalizo a importância da convivência para que a intimidade necessária à estabilidade da relação seja possível.

A intimidade é a grande aliada e rival de qualquer relacionamento.
Quando podemos nos expor sem receios a alguém e, ainda assim, encontrando a correspondência natural dos nossos comportamentos, tornamo-nos íntimos de uma forma saudável e geralmente reforçadora. É no momento em que a própria intimidade passa a ser usada para o controle coercitivo nas relações que noto-a uma grande rival da felicidade individual e do casal ou pessoas envolvidas.

 Porfrancine Porfilio

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