sábado, 13 de abril de 2013

Psicólogo na empresa


Ocorre no dia a dia, ao seu lado, com seu colega e com você também. Pode durar algumas horas, o dia todo, uma semana, um mês, ou pode não passar. É aquela irritação, aquela vontade de ficar quieto sem falar com ninguém, aquele medo de se arriscar numa atividade nova e diferente. O medo da avaliação dos colegas de trabalho, e de se comportar de maneira inadequada. Pode ser também a busca da perfeição, o interesse detalhista que impede concluir as atividades, ou o medo de errar. Pode ser a inveja. Não estou falando daquela inveja que no senso comum é entendido como “normal”, mas da inveja que faz a pessoa arder de febre, se infezar numa prisão de fezes. No mal estar que tira a energia, ao ver o outro ter sucesso, na superioridade arrogante que distancia do sentimento de impotência, na dificuldade das relações interpessoais. Isso sem falar na falta de esperança, estar literalmente na “fossa”. Os transtornos psicológicos devem ser vistos com mais atenção pelas organizações. A instituição sabe como lidar com a doença. Por exemplo, a pessoa pode ficar “doente”, ter uma dor de barriga, uma dor de cabeça, uma úlcera, gastrite, etc. Isso pode. Ela consegue um atestado médico e todos aceitam. Mas a pessoa não pode sofrer. O sofrimento não é aceito no ambiente de trabalho.
 As sensações ocorrem, e às vezes não sabemos como lidar com elas. Não sabemos como trata-las, não existe um remédio para o sentir. Pequenos sentimentos se acumulam e crescem, até virar uma manifestação, uma ocorrência, um sintoma. Para o sintoma temos remédio, e como o próprio nome diz remediamos. O sentir não é uma doença. E não é o sentir que faz alguém ficar doente. O sentimento é a expressão, vivida no próprio corpo. O que nos faz adoecer é justamente não saber lidar com o sentimento. Podemos aprender a lidar com o sentimento e com nossa sensibilidade, assim como aprendemos qualquer coisa na vida. Interessante que a sensibilidade é muito bem vinda ao mundo artístico, mas no mundo do trabalho ela parece que mais atrapalha do que ajuda. É comum no ambiente corporativo, procurar formas de reduzir, ou mesmo eliminar a emoção. A ciência não consegue dominar a sensibilidade e, portanto, reduz e deixa escapar o sentimento. O corpo que sente é um ilustre desconhecido. E às vezes a pessoa acha que foi tomada pelo sentimento. Nós não apenas sentimos. Nós sabemos que sentimos, esse é um diferencial importantíssimo. A pessoa sabe que sente, mas não sabe o que fazer com “isso”. Nós não apenas sabemos o que é ciúmes, inveja, derrota e fracasso, a nível teórico.  Nós temos uma vivencia pessoal de cada um dessas sensações. O fato da ciência não saber como lidar com a sensibilidade, o fato do cientista não dar atenção à experiência afetiva, não modifica em nada a realidade do que sentimos.
A partir do que foi exposto até aqui, podemos fazer os seguintes questionamentos: É possível criar um espaço, dentro da organização, que possa oferecer um serviço de ajuda qualificado às pessoas para lidar com seu sofrimento psíquico? É possível dentro da própria instituição às pessoas conseguirem elaborar a sua experiência, no que diz respeito ao sofrimento psíquico, permitindo a ressignificação dos conteúdos emocionais? Como ficam as relações de poder, diante de problemas pessoais, com a liderança e colegas de trabalho? A pessoa dentro da instituição poderá ser ouvida, em sua demanda psicológica, e ter a singularidade dessa demanda respeitada? A instituição consegue atender as demandas psíquicas individuais das pessoas?

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